A Arte de Escutar - Alpino, Itália - 3ª palestra 6 de julho, 1933 / Jiddu Krishnamurti

Amigos, nestas conversas tenho estado a tentar mostrar que quando a acção envolve esforço, auto-controlo – e eu expliquei o que quero dizer com estes termos – deve existir diminuição e limitação da vida, mas onde a acção é sem esforço, espontânea, há plenitude de vida. O que eu digo, contudo, diz respeito à própria plenitude da vida, não ao caos da libertação mal compreendida. Explicarei de novo o que quero dizer com acção sem esforço.
Quando vocês têm consciência da incompletude, têm o desejo de encontrar um objectivo ou um fim que será a vossa autoridade, e assim esperam preencher aquele vazio, aquela incompletude. A maior parte de nós está continuamente à procura de um objectivo, um fim, uma imagem, um ideal para nosso conforto. Estamos incessantemente a trabalhar na direcção desse objectivo porque estamos conscientes da luta que surge da incompletude. Mas se compreendêssemos a própria incompletude, então deixaríamos de procurar um objectivo que é apenas uma substituição.
Para compreender a incompletude e a sua causa devem descobrir porque procuram um objectivo. Porque trabalham na direcção de um objectivo? Porque é que querem disciplinar-se de acordo com um padrão? Porque a incompletude, da qual estão mais ou menos conscientes, dá azo ao esforço continuado, à luta continuada, dos quais a mente tenta fugir estabelecendo a autoridade de um ideal confortável que esperam lhes sirva de guia. Desse modo a própria acção não tem significado; torna-se meramente num ponto de passagem em direcção a um fim, a um objectivo. Na vossa procura da verdade utilizam a acção meramente como um meio para atingir um fim, e o significado da acção perde-se. Fazem esforços enormes para alcançar um objectivo, e a importância da vossa acção reside no fim que atingem – não na própria acção.
A maioria das pessoas está aprisionada pela procura de recompensa, pela tentativa de fugir ao castigo. Trabalham para resultados; são impelidas a avançar por um motivo, e por isso a sua acção não pode ser completa. A maioria de vocês está fechada nesta prisão de incompletude, e por isso têm de se tornar conscientes dessa prisão.
Se não compreenderem o que eu digo, por favor interrompam-me, e eu voltarei a explicar.
Eu digo que devem tornar-se conscientes de que são prisioneiros; têm de ter consciência de que estão continuamente a tentar fugir da incompletude e que a vossa procura da verdade é apenas uma evasão. Aquilo a que vocês chamam procura de verdade, de Deus, através da auto-disciplina e da consecução, é apenas uma fuga da incompletude.
A causa da incompletude está na própria procura de consecução, mas vocês estão continuamente a fugir desta causa. A acção nascida da auto-disciplina, a acção nascida do medo ou do desejo de consecução, é a causa da incompletude. Mas quando vocês se tornam conscientes de que tal acção é, ela própria, a causa da incompletude, são libertados dessa incompletude. No momento em que se tornam consciente do veneno, o veneno deixa de ser um problema para vocês. Só é problema enquanto não estiverem conscientes da vossa acção na vossa vida.
Mas a maioria das pessoas não conhece a causa da sua incompletude, e dessa ignorância surge o esforço infindável. Quando tomam consciência da causa – que é a procura de consecução – então nessa consciência há plenitude, plenitude que não requer esforço. Na vossa acção não há então esforço, não há auto-análise, não há disciplina.
Da incompletude surge a procura de conforto, de autoridade, e a tentativa de atingir este objectivo priva a acção do seu significado intrínseco. Mas quando vocês se tornam totalmente conscientes, com a mente e o coração, da causa da incompletude, então a incompletude cessa. Dessa consciência vem a acção que é infinita porque tem significado em si própria.
Colocando as coisas de forma diferente, desde que mente e coração estejam aprisionados na carência, no desejo, tem que haver vazio. Vocês querem coisas, ideias, pessoas, somente quando estão consciente do vosso próprio vazio, e essa carência cria a escolha. Onde há ânsia tem que haver escolha, e a escolha precipita-os no conflito das experiências. Vocês têm a capacidade de escolher, e assim limitam-se a si próprios pela vossa escolha. Somente quando a mente está livre da escolha é que existe liberdade.
Toda a carência, toda a ânsia, é cegante, e a vossa escolha nasce do medo, do desejo de consolo, conforto, recompensa, ou como resultado de um cálculo habilidoso. A carência existe devido ao vazio dentro de vocês. Uma vez que a vossa escolha é sempre baseada na ideia de ganho, não pode existir verdadeiro discernimento, percepção verdadeira; existe apenas carência. Quando vocês escolhem, porque vocês escolhem, a vossa escolha apenas cria um outro conjunto de circunstâncias que resultam em mais conflito e escolha. A vossa escolha, que nasce da limitação, estabelece mais séries de limitações, e estas limitações criam a consciência que é o “Eu”, o ego. À multiplicação da escolha vocês chamam experiências. Contam com estas experiências para que os libertem da vossa escravidão, mas elas nunca o poderão fazer porque vocês pensam nas experiências como um contínuo movimento de aquisição.
Deixem-me ilustrar isto com um exemplo, que transmitirá talvez o meu pensamento. Suponham que perdem, por morte, alguém a quem amam muito. Essa morte é um facto. Ora, de uma só vez, vocês experimentam um sentido de perda, uma ânsia de estar novamente com essa pessoa. Querem o vosso amigo de volta, e uma vez que não o podem ter outra vez, a vossa mente cria ou aceita uma ideia para satisfazer a vossa ânsia emocional.
A pessoa que amam foi-lhes tirada. Então, porque sofrem, porque estão conscientes de um vazio intenso, uma solidão, querem voltar a ter o vosso amigo. Isto é, querem terminar com o vosso sofrimento, ou pô-lo de parte, ou esquecê-lo; querem amortecer a consciência desse vazio, que está escondido quando estão com o amigo que amam. A vossa carência surge do desejo de conforto; mas uma vez que não podem ter o conforto da sua presença, pensam nalguma ideia que os possa satisfazer – reencarnação, vida após a morte, a unidade de todas as vidas. De tais ideias – não digo se estão certas ou não, discuti-las-emos noutra altura – de tais ideias, digo, vocês retiram conforto. Porque não podem ter a pessoa que amam, retiram consolo mental de tais ideias. Isto é, sem verdadeiro discernimento, aceitam qualquer ideia, qualquer princípio, que parece satisfazê-los nesse momento, para pôr de parte essa consciência de vazio que causa sofrimento.
Portanto a vossa acção baseia-se na ideia de consolo, na ideia de multiplicação de experiências; a vossa acção é determinada pela escolha que tem as suas raízes na carência. Mas no momento em que se tornam conscientes, com a vossa mente e o vosso coração, com todo o vosso ser, da inutilidade da carência, o vazio cessa. Mas vocês só estão parcialmente conscientes deste vazio, portanto tentam obter satisfação lendo novelas, perdendo-se em diversões que o homem criou em nome da civilização; e a esta procura de sensação vocês chamam experiência.
Têm de tomar consciência com o vosso coração bem como com a vossa mente que a causa do vazio é a ânsia, que resulta em escolha, e impede o verdadeiro discernimento. Quando tomam consciência disto, há então cessação da carência.
Tal como eu disse, quando se sente um vazio, uma carência, aceita-se sem verdadeiro discernimento. E a maioria das acções que compõem as nossas vidas estão baseadas neste sentimento de carência. Podemos pensar que as nossas escolhas estão baseadas na razão, no discernimento; podemos pensar que pesamos possibilidades e calculamos oportunidades antes de fazer uma escolha. No entanto, porque existe em nós um anelo, uma carência, uma ânsia, não podemos conhecer a verdadeira percepção ou discernimento. Quando se apercebem disto, quando se tornam conscientes disto com todo o vosso ser, tanto emocional como mentalmente, quando se apercebem da inutilidade da carência, então a carência cessa; estarão então libertos desse sentimento de vazio. Nessa chama de consciência não existe disciplina, não existe esforço.
Mas nós não nos apercebemos disto totalmente; não nos tornamos conscientes, porque experimentamos prazer na carência, porque estamos continuamente à espera que o prazer na carência domine a dor. Empenhamo-nos em obter o prazer mesmo sabendo que não está livre de dor. Se se tornarem totalmente conscientes de todo o significado disto, terão feito um milagre a vocês próprios; experimentarão então a ausência de carência, e por isso ausência de escolha; então, já não serão aquela consciência limitada, o “Eu”.
Quando existe dependência ou se conta com outro para apoio, para encorajamento, quando existe esperança no outro, existe solidão. Ao contar com outro para a plenitude, para a felicidade ou bem-estar, ao contar com outro para consolo, na vossa dependência em qualquer pessoa ou ideia como autoridade em assuntos de religião – em tudo isto há absoluta solidão. Porque estão assim dependentes e por isso sozinhos, procuram conforto, ou uma forma de escape: procuram autoridade e apoio de outro para que lhes dê consolo. Mas quando vocês se tornam conscientes da falsidade de tudo isto, quando se tornam conscientes tanto com o vosso coração como com a vossa mente, há o fim da solidão, porque então já não precisarão de contar com outro para a vossa felicidade.
Portanto onde há escolha não pode haver discernimento, porque o discernimento é sem escolhas. Onde há escolha e a capacidade de escolher, apenas há limitação. Somente quando a escolha cessa é que há libertação, plenitude, riqueza de acção, que é a própria vida. A criação é isenta de escolhas, bem como a compreensão é isenta de escolhas. Da mesma maneira é a verdade; é uma acção contínua, um devir constante, no qual não existe escolha. É puro discernimento.
Pergunta: Como podemos livrar-nos da incompletude sem formar algum ideal de plenitude? Após ter consciência da plenitude pode não haver necessidade de um ideal, mas antes da consciência de plenitude um ideal parece inevitável, apesar de que terá que ser provisório e de mudar de acordo com o crescimento da compreensão.
Krishnamurti: O próprio facto de estar a dizer que precisa de um ideal para ultrapassar a incompletude mostra que está apenas a tentar sobrepor esse ideal à incompletude. Isso é o que a maioria de vocês está a tentar fazer. É apenas quando descobrem a causa da incompletude e estão conscientes dessa causa que se tornam completos. Mas vocês não descobrem essa causa. Vocês não compreendem o que estou a dizer, ou antes, compreendem apenas com as vossas mentes, apenas intelectualmente. Qualquer pessoa pode fazer isso, mas compreender realmente requer acção.
Você sente a incompletude, e por isso procura um ideal, o ideal de plenitude. Isto é, você procura um oposto de incompletude, e ao querer esse oposto apenas cria outro oposto. Isto pode parecer confuso, mas não é. Vocês procuram continuamente o que lhes parece essencial. Um dia acham que isto é essencial; escolhem isso, esforçam-se por isso, e possuem isso, mas entretanto isso já se tornou o não essencial. Agora se a mente estiver livre de todo o sentido de dualidade, livre da ideia de essencial e não essencial, então não serão confrontados pelo problema da escolha; então actam na totalidade do discernimento, e já não procuram mais a imagem da plenitude.
Porque é que se mantêm fiéis ao ideal de liberdade quando estão numa prisão? Vocês criam ou inventam o ideal de liberdade porque não podem fugir da vossa prisão. Também é assim com os vossos ideais, os vossos deuses, as vossas religiões: são a criação do desejo de escapar para o conforto. Vocês próprios tornaram o mundo uma prisão, uma prisão de sofrimento e conflito; e porque o mundo é semelhante prisão, vocês criam um deus ideal, uma liberdade ideal, uma verdade ideal.
E estes ideais, estes opostos, são apenas tentativas de evasão emocional e mental. Os vossos ideais são meios de fuga da prisão a que estão confinados. Mas se se tornarem conscientes dessa prisão, se tiverem consciência do facto de que estão a tentar escapar, então essa consciência destrói a prisão; então, em vez de procurar a liberdade, conhecerão a liberdade.
A liberdade não vem àquele que a procura. A verdade não é encontrada por aquele que a procura. Somente quando tomarem consciência com toda a vossa mente e todo o vosso coração da condição da prisão em que vivem, quando tomarem consciência do significado dessa prisão, somente então serão livres, naturalmente e sem esforço. Esta compreensão só pode vir quando estão numa grande crise, mas a maior parte de vocês tenta evitar as crises. Ou, quando são confrontado com uma crise, de imediato procuram conforto na ideia de religião, na ideia de Deus, na ideia de evolução; voltam-se para os sacerdotes, para os guias espirituais, para o consolo; procuram distracção nos divertimentos. Tudo isto são apenas fugas ao conflito. Mas se realmente enfrentarem a crise, se tomarem consciência da inutilidade, da falsidade da fuga como um mero meio de protelação da acção, então nessa consciência nasce a flor do discernimento.
Portanto devem tornar-se conscientes na acção, que lhes revelará as persecuções ocultas da ânsia. Mas esta consciência não resulta da análise. A análise apenas limita a acção. Respondi a essa pergunta?
Pergunta: O senhor enumerou os sucessivos passos para o processo de criação de autoridade. Poderá enumerar os passos do processo inverso, o processo de nos libertarmos de toda a autoridade?
Krishnamurti: Receio bem que a pergunta esteja mal formulada. Você não pergunta o que cria a autoridade, mas sim como libertar-se dela. Por favor, deixe-me dizer isto outra vez: Uma vez que esteja consciente da causa da autoridade, você estará livre dessa autoridade. A causa da criação da autoridade é o que é importante – não os passos que levam à autoridade ou os passos que levam à derrota da autoridade.
Porque é que você cria autoridade? Qual é a causa da sua criação de autoridade? É, tal como eu disse, a procura de segurança, e terei que dizer isto muitas vezes até que se transforme numa fórmula para vocês. Você procura uma segurança na qual pensa que não precisará de fazer qualquer esforço, onde não precisará de lutar com o seu próximo. Mas não alcançará este estado de segurança apenas procurando-o. Há um estado que é plenitude, que é a garantia da bem-aventurança, um estado no qual você actua a partir da vida; mas esse estado, você só o alcança quando já não procurar segurança. Somente quando toma consciência com todo o seu ser que não existe tal coisa como segurança na vida, somente quando se libertar desta procura constante, poderá haver plenitude. Portanto você cria a autoridade na forma de ideais, na forma de sistemas religiosos, sociais, económicos, todos eles baseados na procura de segurança individual. E por isso é você próprio o responsável pela criação da autoridade, à qual se escraviza. A autoridade não tem existência própria. Não tem existência além daquele que a cria. Você criou-a, e até que tenha consciência com todo o seu ser da causa da sua criação, será um escravo dela. E só poderá tornar-se consciente dessa causa quando estiver a agir sem ser através da auto-análise ou da discussão intelectual.
Pergunta: Eu não quero um conjunto de regras para estar “consciente”, mas gostaria muito de compreender a consciência. Não é necessário fazer um grande esforço para estar consciente de cada pensamento à medida que ele aparece, antes que se chegue ao estado de não esforço?
Krishnamurti: Porque é que quer estar consciente? Qual é a necessidade de estar consciente? Se está perfeitamente satisfeito conforme está, continue assim. Quando você diz, “Eu tenho de estar consciente”, está apenas a transformar a consciência num outro fim a atingir, e dessa forma você nunca se tornará consciente. Você deitou fora um conjunto de regras, e agora está a criar um outro conjunto, em vez de tentar estar consciente quando estiver numa grande crise, quando estiver a sofrer.
Enquanto procurar conforto e segurança, enquanto estiver à sua vontade, você apenas está a considerar o assunto intelectualmente, e diz, “Eu tenho que estar consciente”. Mas quando no meio do sofrimento você tenta descobrir o significado do sofrimento, quando não tenta fugir dele, quando numa crise você toma uma decisão – não nascida da escolha, mas da própria acção – então você torna-se realmente consciente. Mas quando está a tentar fugir, a sua tentativa para estar consciente é inútil. Você realmente não quer estar consciente, não quer descobrir a causa do sofrimento; toda a sua preocupação é com a fuga.
Vocês vêm aqui e ouvem-me a dizer-lhes que escapar do conflito é inútil. No entanto vocês desejam escapar. Portanto o que querem dizer é, “Como posso fazer ambas as coisas”? Sub-repticiamente, engenhosamente, no fundo das vossas mentes, querem as religiões, os deuses, os meios de fuga que vocês inteligentemente inventaram e edificaram através dos séculos. E no entanto escutam-me quando eu digo que nunca encontrarão a verdade através da orientação de alguém, através da fuga, através da procura de segurança, o que resulta apenas em solidão eterna. Depois perguntam, “Como é que alcançamos ambas? Como é que harmonizamos fuga e consciência?” Vocês confundiram as duas e procuram um acordo; por isso perguntam, “Como é que me torno consciente?” Mas se em vez disto, disserem francamente a si próprios, “Eu quero fugir, eu quero conforto”, então encontrarão exploradores que lhe darão o que vocês querem. Vocês próprios criaram os exploradores devido ao vosso desejo de fugir, Descubram o que querem, tornem-se consciente do que anseiam; então a questão da consciência não surgirá. Porque vocês estão sós, querem consolo. Mas se procuram consolo, sejam honestos, sejam francos, estejam conscientes do que querem, conscientes de que estão à procura disso. Então poderemos compreender o assunto.
Posso dizer-lhes que da dependência em outros, da procura de conforto, resulta solidão eterna. Posso tornar-lhes isto facilmente compreensível, e vocês, por vossa vez, podem concordar ou discordar. Posso mostrar-lhe que na carência existem um vazio e um nada eternos. Mas vocês retiram satisfação da sensação, do prazer, das alegrias transitórias que preenchem as vossas carências, os vossos desejos. Depois, quando lhes mostro a falsidade da carência, não sabem como agir. Portanto, como compromisso, começam a auto-disciplinar-se e esta tentativa de se disciplinarem destrói a vossa vida criativa. Quando vocês realmente se aperceberem do absurdo, do vazio da carência, então essa carência desaparece sem qualquer esforço. Mas enquanto estiverem escravizados pela ideia de escolha, têm que fazer um esforço, e dele surge, como um oposto, o desejo de consciência, o problema de viver sem esforço.
Pergunta: O senhor fala ao homem, mas o homem foi primeiramente uma criança. Como podemos educar uma criança sem disciplina?
Krishnamurti: Concorda que a disciplina é inútil? Sente a inutilidade da disciplina?
Comentário da audiência: Mas o senhor começa do ponto em que o homem já é um homem. Eu quero começar com a criança como criança.
Krishnamurti: Somos todos crianças; todos nós temos que começar, não com os outros, mas connosco mesmos. Quando fazemos isto, então descobriremos a maneira certa para com as crianças. Não podem começar com as crianças porque são os pais das crianças, devem começar convosco mesmos. Imaginemos que tem uma criança. Você acredita na autoridade e treina-a de acordo com essa crença; mas se compreendesse a inutilidade da autoridade, você livrá-la-ia dela. Portanto, antes de tudo, vocês mesmos têm que descobrir o significado da autoridade na vossa vida.
O que eu digo é muito simples. Eu digo que a autoridade é criada quando a mente procura conforto na segurança. Por isso, comecem convosco mesmos. Comecem com o vosso próprio jardim, não com o dos outros. Querem criar um novo sistema de pensamento, um novo sistema de ideias, um novo sistema de comportamento; mas não podem criar algo novo reformando algo velho. Têm que se separar do velho para começar o novo; mas só poderão separar-se do velho quando compreenderem a causa do velho.
A Arte de Escutar, Jiddu Krishnamurti