Amigos, antes de responder a algumas perguntas que me foram formuladas, farei uma pequena palestra relativa à memória e ao tempo.
Quando vocês se defrontam totalmente, completamente, sem influências ou preconceitos, com uma experiência, ela não deixa marca na memória. Cada um de vocês passa por experiências, e se as enfrentarem completamente, com todo o vosso ser, então a mente não é apanhada na onda da memória. Quando a vossa acção é incompleta, quando não enfrentam a experiência completamente, mas através das barreiras da tradição, do preconceito, ou medo, então a acção é seguida pela tortura da memória.
Enquanto houver esta marca da memória, tem que existir a divisão do tempo em passado, presente e futuro. Enquanto a mente estiver acorrentada à ideia de que a acção deve ser dividida em passado, presente e futuro, há identificação através do tempo e por isso uma continuidade da qual resulta o medo da morte, o medo da perda do amor. Para compreender a realidade intemporal, a vida intemporal, a acção deve ser completa. Mas vocês não podem tornar-se conscientes dessa realidade intemporal procurando-a; não podem adquiri-la perguntando, “Como posso obter esta consciência?”
Ora bem, o que é que causa a memória? O que é que os impede de agir completamente, harmoniosamente, ricamente em cada experiência da vida? A acção incompleta surge quando a mente e o coração estão limitados por obstáculos, por barreiras. Se a mente e o coração estiverem livres, então enfrentarão cada experiência completamente. Mas a maior parte de vocês está rodeada de barreiras – as barreiras da segurança, da autoridade, do medo, do adiamento. E visto que têm essas barreiras, naturalmente agem dentro do limite delas, e por isso são incapazes de agir completamente. Mas quando tomam consciência destas barreiras, quando tomam consciência com o vosso coração e a vossa mente no centro de uma crise, essa consciência liberta a vossa mente, sem esforço, das barreiras que têm impedido a vossa acção completa.
Assim, enquanto houver conflito, há memória. Isto é, quando a vossa acção nasce da incompletude, então a memória dessa acção condiciona o presente. Tal memória produz conflito no presente e cria a ideia de consistência. Vocês admiram o homem que é coerente, o homem que estabeleceu um princípio e age de acordo com essa princípio. Ligam a ideia de nobreza e virtude a uma pessoa que é coerente. Ora bem, a coerência resulta da memória. Isto é, porque não agiram completamente, porque não compreenderam o significado completo da experiência no presente, estabelecem artificialmente um princípio de acordo com o qual resolvem viver amanhã. Por isso a vossa mante está a ser conduzida, treinada, controlada pela falta de compreensão, à qual chamam coerência.
Agora por favor não vão para o outro extremo, para o oposto, e pensar que devem ser absolutamente incoerentes. Não estou a forçá-los a ser incoerentes; falo de se libertarem a si mesmos do fetiche da coerência que estabeleceram, de se libertarem da ideia de que devem inserir-se num padrão. Estabeleceram o princípio da coerência porque não compreenderam; da vossa falta de compreensão desenvolvem a ideia de que devem ser coerentes, e medem qualquer experiência que os confronte pela ideia que estabeleceram, pela ideia ou princípio que nasce apenas através da falta de compreensão.
Portanto a coerência, o facto de viver segundo um padrão, existe enquanto a vossa vida tiver falta de riqueza, enquanto a vossa acção não for completa. Se observarem a vossa própria mente em acção, verão que estão continuamente a tentar ser coerentes. Dizem, “eu devo”, ou “eu não devo.”
Espero que tenham compreendido o que disse nas minhas conversas anteriores; de outro modo o que eu disser hoje não terá pouco significado para vocês.
Repito que esta ideia da coerência nasce quando vocês não vão ao encontro da vida integralmente, totalmente, quando vão ao encontro da vida através da memória; e quando seguem constantemente um padrão, não fazem senão incrementar a coerência dessa memória. Criaram a ideia da coerência através da vossa recusa em confrontar, livremente, abertamente, e sem preconceito, cada experiência da vida. Isto é, estão constantemente a defrontar experiências parcialmente, e daí surge o conflito.
Para vencer esse conflito dizem que têm que ter um princípio; estabelecem um princípio, um ideal, e empenham-se em condicionar a vossa acção por ele. Isto é, estão constantemente a tentar imitar; tentam controlar a vossa experiência diária, as acções do vosso quotidiano, através da ideia de coerência. Mas quando realmente compreenderem isto, quando o compreenderem com o vosso coração e a vossa mente, com o vosso ser completo, verão então a falsidade da imitação e de ser coerente. Quando tiverem consciência disto, começarão a libertar a vossa mente, sem esforço, deste hábito de coerência durante tanto tempo estabelecido, apesar de que isto não significa que tenham que tornar-se incoerentes.
Para mim, portanto, a coerência é um sinal de memória, memória esta que resulta da falta de verdadeira compreensão da experiência. E essa memória cria a ideia de tempo; cria a ideia de presente, passado e futuro, sobre os quais se baseiam as nossas acções. Consideramos o que éramos ontem, o que seremos amanhã. Tal ideia sobre o tempo existe enquanto mente e coração estiverem divididos. Enquanto a acção não nascer da plenitude, tem que haver divisão do tempo. O tempo é apenas uma ilusão, é apenas a incompletude da acção.
Uma mente que está a tentar moldar-se a um ideal, a ser coerente com um princípio, naturalmente cria conflito porque constantemente se limita na acção. Aí não existe liberdade; aí não há compreensão da experiência. Ao enfrentar a vida desse modo apenas estão a enfrentá-la parcialmente; estão a escolher, e nessa escolha perdem o pleno significado da experiência. Vivem de forma incompleta, e por isso procuram consolo na ideia da reencarnação; por isso a vossa questão, “Que acontece quando morrer?” Uma vez que não vivem plenamente na vossa vida diária, dizem. “Tenho que ter um futuro, mais tempo no qual viver completamente.”
Não procurem remédio para essa incompletude, mas tornem-se conscientes da causa que os impede de viver completamente. Descobrirão que esta causa é a imitação, a conformidade, a coerência, a busca de segurança que origina a autoridade. Tudo isto os afasta da plenitude de acção porque, sob a sua limitação, a acção torna-se apenas uma série de realizações que conduzem a um fim, e por isso o contínuo conflito e sofrimento.
Somente quando enfrentarem as experiências sem barreiras descobrirão a alegria contínua; então não serão sobrecarregados pelo peso da memória que impede a acção. Então viverão na plenitude do tempo. Isso para mim é a imortalidade.
Pergunta: A meditação e a disciplina da mente ajudaram-me muito na vida. Agora, ao ouvir os seus ensinamentos, estou muito confuso, porque eles descartam qualquer auto-disciplina. A meditação não tem igualmente qualquer significado para si? Ou tem uma nova forma de meditação para nos oferecer?
Krishnamurti: Conforme já expliquei, onde há escolha tem que haver conflito, porque a escolha está baseada na necessidade. Onde há necessidade não há discernimento, e por isso a sua escolha apenas cria mais obstáculos. Quando sofre, você quer felicidade, conforto, quer fugir ao sofrimento; e uma vez que a necessidade impede o sofrimento, você cegamente aceita qualquer ideia, qualquer crença que pensa lhe dará alívio para o conflito. Pode pensar que raciocina ao fazer a sua escolha, mas não o faz.
Desta forma você estabeleceu ideias que apelida de nobres, dignas, admiráveis, e força a sua mente a submeter-se a essas ideias; ou então concentra-se numa figura ou imagem, e desse modo cria uma divisão na sua acção. Tenta controlar a sua acção através da meditação, através da escolha. Se não entender o que estou a dizer, por favor interrompa-me, para que o possamos discutir.
Conforme disse, quando experimentam a dor, imediatamente começam a procurar o oposto. Querem ser confortados, e na vossa busca aceitam qualquer conforto, qualquer paliativo, que lhes dê satisfação momentânea. Podem pensar que raciocinam antes de aceitar qualquer conforto, qualquer paliativo, mas na realidade aceitam-no cegamente, sem raciocinar, porque onde existe necessidade não pode haver verdadeiro discernimento.
Ora a meditação, para a maioria das pessoas, baseia-se na ideia de escolha. Na Índia, a ideia é levada ao seu extremo. Ali, o homem que pode sentar-se quieto durante um longo período de tempo, repisando continuamente uma ideia, é considerado espiritual. Mas, efectivamente, que fez ele? Ele descartou todas as ideias excepto a que ele deliberadamente escolheu, e a sua escolha dá-lhe satisfação. Treinou a sua mente para se concentrar nesta ideia, nesta imagem; ele controla e por isso limita a sua mente e espera ultrapassar o conflito.
Ora para mim, esta ideia de meditação – claro que não a descrevi em detalhe – é absolutamente absurda. Não é realmente meditação; é uma hábil fuga ao conflito, uma proeza intelectual que nada tem a ver com a verdadeira vida. Treinaram a vossa mente para se adaptarem a uma certa regra de acordo com a qual esperam ir ao encontro da vida. Mas nunca encontrarão a vida enquanto se mantiverem num molde. A vida passará por vocês porque já limitaram a vossa mente pela vossa própria escolha.
Porque sentem que devem meditar? Com meditação, querem dizer concentração? Se estiverem mesmo interessados, então não lutam, não se obrigam a concentrar-se. Somente quando não estão interessados é que têm que se forçar brutal e violentamente. Mas, ao forçarem-se, destroem a mente, e então a vossa mente deixa de ser livre, bem como a vossa emoção. São ambas mutiladas. Eu afirmo que há uma alegria, uma paz na meditação sem esforço, e que isso só podem advir quando a vossa mente está liberta da escolha, quando a vossa mente já não cria divisão na acção.
Tentámos treinar a mente e o coração para seguir uma tradição, um modo de vida, mas através de tal treino não compreendemos, apenas criamos opostos. Não estou a dizer que a acção deva ser impetuosa, caótica. O que eu digo é que quando a mente é apanhada na divisão, essa divisão continuará a existir mesmo que se empenhem em suprimi-la através da coerência com um princípio, mesmo que tentem dominá-la e ultrapassá-la estabelecendo um ideal. Aquilo que chamam de vida espiritual é um contínuo esforço, um empenhamento incessante, através do qual a mente tenta manter-se fiel a uma ideia, a uma imagem; é uma vida, por isso, que não é plena, que não é completa.
Após ouvir esta conversa poderão dizer: “Disseram-me que devia viver plenamente, completamente; que não devo estar preso a um ideal, a um princípio; que não devo ser coerente – por isso devo fazer o que quiser.” Ora essa não é a ideia que desejo deixar convosco nesta última conversa. Não falo sobre a acção que é completa, que é êxtase. E digo que não podem agir plenamente forçando a vossa mente, moldando tenazmente a vossa mente, vivendo em conformidade com uma ideia, um princípio, ou uma meta.
Já alguma vez consideraram a pessoa que medita? É uma pessoa que escolhe. Escolhe aquilo que gosta, aquilo que lhe dará o que chama de auxílio. Portanto o que está realmente a procurar é qualquer coisa que lhe dê conforto, satisfação – uma espécie de paz morta, uma estagnação. E no entanto, ao homem que é capaz de meditar chamamos-lhe um grande homem, um homem espiritual.
Todo o nosso esforço está preocupado com esta sobreposição do que chamamos ideias correctas sobre o que consideramos ideias incorrectas, e através desta tentativa constantemente criamos uma divisão na acção. Não libertamos a mente da acção; não compreendemos que essa escolha contínua nascida da necessidade, do vazio, da ânsia, é a causa desta divisão. Quando experimentamos um sentimento de vazio, queremos preencher esse vazio, esse vácuo; quando experimentamos a incompletude, queremos fugir dessa incompletude que nos causa sofrimento. Para este fim inventamos uma satisfação intelectual a que chamamos meditação.
Agora dirão que não lhes dei instrução construtiva ou positiva. Cuidado com o homem que lhes ofereça métodos positivos, porque aquilo que lhes está a dar são apenas os seus padrões, o seu molde. Se realmente vivem, se tentarem libertar a vossa mente e o vosso coração de toda a limitação – não através da auto-análise e introspecção, mas através da consciência em acção – então os obstáculos que agora impedem a vossa plenitude de vida entrarão em declínio. Esta consciência é a alegria da meditação – meditação que não é o esforço de uma hora, mas que é acção, que é a própria vida.
Perguntam-me: "Tem uma nova forma de meditação para nos oferecer?" Ora vocês meditam para conseguir um resultado. Meditam com a ideia de obtenção, da mesma maneira que vivem com a ideia de alcançar uma elevação espiritual, uma altitude espiritual. Podem esforçar-se ao máximo por essa elevação espiritual; mas asseguro-lhes que, embora pareça terem-na alcançado, continuarão a experimentar o sentimento de vazio. A vossa meditação não tem valor em si mesma, bem como a vossa acção não tem valor em si mesma, porque estão constantemente à procura de uma culminação, de uma recompensa. Somente quando a vossa mente e o vosso coração estiverem livres desta ideia de obtenção, desta ideia nascida do esforço, da escolha, do ganho – somente quando estiverem libertos dessa ideia, afirmo, é que há uma vida eterna que não é finalidade, mas sim um constante devir, uma constante renovação.
Pergunta: Reconheço um conflito em mim, contudo esse conflito não cria uma crise, uma chama devoradora dentro de mim, impelindo-me a resolver esse conflito e a ter consciência da verdade. Como agiria no meu lugar?
Krishnamurti: O interrogador diz que reconhece um conflito em si, mas que esse conflito não lhe causa qualquer crise e por isso qualquer acção. Tenho a impressão que este é o caso da maioria das pessoas. Pergunta-me o que deve fazer. Seja o que for que tente fazer, fá-lo-á intelectualmente, e por isso falsamente. É somente quando estiver disposto a enfrentar o seu conflito e a compreendê-lo completamente, que experimentará uma crise. Mas porque tal crise requer acção, a maioria de vocês não estão dispostos a enfrentá-la.
Eu não posso metê-lo á força na crise. O conflito existe em si, mas você quer fugir-lhe; quer encontrar um meio pelo qual possa evitá-lo, adiá-lo. Por isso quando diz, “ Não consigo resolver o meu conflito numa crise”, as suas palavras apenas mostram que a sua mente está a tentar evitar o conflito – e a liberdade que resulta de o enfrentar completamente. Enquanto a sua mente estiver cuidadosamente, sub-repticiamente a evitar o conflito, enquanto estiver à procura de consolo através da fuga, ninguém poderá ajudá-lo a completar a acção, ninguém poderá forçá-lo a uma crise que resolverá o seu conflito. Quando chegar a ter consciência disto – não a ver isto apenas intelectualmente, mas também a sentir a verdade disto – então o seu conflito criará a chama que o consumirá.
Pergunta: Isto foi o que inferi de o ouvir: Uma pessoa só se torna consciente numa crise; uma crise envolve sofrimento. Portanto se uma pessoa deve estar consciente todo o tempo, deve viver continuamente num estado de crise, ou seja, num estado de sofrimento e agonia mental. Esta é uma doutrina de pessimismo, não a felicidade e o êxtase de que fala.
Krishnamurti: Receio bem que não tenha estado a ouvir o que venho dizendo. Sabe, há duas formas de ouvir; há a mera escuta das palavras, conforme ouvem quando não estão realmente interessados, quando não estão a tentar sondar a profundidade de um problema; e há a escuta que captura o significado real do que está a ser dito, a escuta que requer uma mente penetrante e alerta. Creio que realmente não ouviu o que tenho estado a dizer.
Primeiramente, se não houver conflito, se a sua vida não tiver crises e você estiver perfeitamente feliz, então porquê incomodar-se com conflitos e crises? Se não está a sofrer, então fico satisfeito! Todo o nosso sistema de vida está planeado de forma a que possa fugir do sofrimento. Mas ao homem que enfrenta as causas do sofrimento, e que por isso está liberto desse sofrimento, vocês chamam-lhe pessimista.
Explicarei outra vez brevemente o que tenho estado a dizer, para que compreendam. Cada um de vocês está consciente de um grande vácuo, de um vazio dentro de vvocês, e estando conscientes desse vazio, ou tentam preenchê-lo ou fugir dele; e ambos os actos vêm dar ao mesmo. Escolhem aquilo que preencherá esse vazio, e a esta escolha chamam progresso ou experiência. Mas a vossa escolha baseia-se na sensação, na ânsia, e por isso não envolve nem discernimento, nem inteligência, nem sabedoria. Escolhem hoje aquilo que lhes dá maior satisfação, uma satisfação maior que aquela que receberam da escolha de ontem. Portanto aquilo a que chamam escolha é apenas uma forma de fugir do vazio que têm dentro, e por isso estão somente a adiar a compreensão da causa do sofrimento.
Assim, ao movimento de dor para dor, de sensação para sensação vocês chamam-lhe evolução, crescimento. Um dia escolhem um chapéu que lhes dá satisfação; no dia seguinte, querem outro – ou um carro, uma casa, ou querem aquilo a que chamam amor. Mais tarde, ficam cansados dessas coisas, querem a ideia ou a imagem de um deus. Portanto progridem de querer um chapéu a querer um deus, e nisso pensam que fizeram um admirável avanço espiritual. No entanto todas as escolhas são apenas baseadas na sensação, e tudo o que fizeram foi mudar os vossos objectos de escolha.
Onde há escolha tem que haver conflito, porque a escolha baseia-se na ânsia, no desejo de preencher o vazio dentro de vocês ou de fugir desse mesmo vazio. Em vez de tentarem compreender a causa do sofrimento, estão constantemente a tentar vencer esse sofrimento ou a tentar fugir-lhe, o que é a mesma coisa. Mas eu digo, descubram a causa do vosso sofrimento. Essa causa, descobrirão, é uma necessidade contínua, uma ânsia contínua que cega o discernimento. Se compreenderem isso – se compreenderem não apenas intelectualmente, mas com todo o vosso ser – então a vossa acção estará liberta da limitação da escolha; então estão realmente a viver, a viver naturalmente, harmoniosamente, não individualmente, em absoluto caos, como agora. Se viverem plenamente, a vossa vida não resulta em discórdia, porque a vossa acção nasce da riqueza e não da pobreza.
Pergunta: Como posso conhecer a acção e a ilusão de que provém se não sondar a acção e a examinar? Como podemos esperar conhecer e reconhecer as nossas barreiras se não as examinarmos? Nessa altura porque não analisar a acção?
Krishnamurti: Por favor, uma vez que o meu tempo é limitado, esta é a última questão que poderei responder.
Já tentou analisar a suaa acção? Então, quando a estava a analisar, essa acção já tinha morrido. Se tentar analisar o seu movimento enquanto dança, põe um fim ao movimento; mas se o seu movimento nascer do conhecimento total, da consciência total, então sabe o que é o seu movimento na própria acção desse movimento, sabe sem tentar analisar. Fiz-me compreender?
Eu digo que se tentarem analisar a acção, nunca agirão; a vossa acção tornar-se-á lentamente restringida e finalmente resultará na morte da acção. A mesma coisa se aplica à vossa mente, ao vosso pensamento, à vossa emoção. Quando começam a analisar, põem fim ao movimento; quando tentam dissecar um sentimento intenso, o sentimento morre. Mas se estiverem conscientes de coração e mente, se estiverem totalmente conscientes da vossa acção, então saberão de que fonte brota. Quando agimos, agimos parcialmente, não estamos a agir com todo o nosso ser. Por isso, na nossa tentativa de equilibrar a mente em oposição ao coração, na nossa tentativa de dominar um pelo outro, pensamos que devemos analisar a nossa acção.
Ora o que estou a tentar explicar requer uma compreensão que não pode ser dada através de palavras. Somente no momento de verdadeira consciência é que podem tornar-se conscientes desta batalha pelo domínio; então, se estiverem interessados em agir harmoniosamente, completamente, é que se tornam conscientes de que a vossa acção foi influenciada pelo vosso medo da opinião pública, pelos padrões de um sistema social, pelos conceitos da civilização. Então tornam-se conscientes dos vossos medos e preconceitos sem os analisar; e no momento em que se tornam conscientes na acção, estes medos e preconceitos desaparecem.
Quando estão conscientes com a vossa mente e o vosso coração da necessidade de acção completa, agem harmoniosamente. Então, todos os vossos medos, as vossas barreiras, o vosso desejo de poder, de consecução – todos eles se revelam, e as sombras da desarmonia desaparecem.
A Arte de Escutar, Jiddu Krishnamurti