Porque é que a natureza nos parece bela?
Não poderia deixar-nos indiferente visto ser demasiado estranha ao mundo das ideias?
Resposta a Carolina:
Uma
questão muito bonita, ( Carolina) e ao mesmo tempo, estranha. Parece
pressupor que a beleza da natureza está necessariamente separada do
“mundo das ideias”, como se a beleza de um céu não pudesse simbolizar
uma ideia (o infinito, a pureza, Deus...) como se a nossa sensibilidade à
beleza não fosse uma maneira de viver do sentido, de aderir a valores
mas de maneira sensível, imediata, não racional evidentemente. No
entanto, contemplar a beleza de uma aurora, não é viver a própria ideia
de que tudo recomeça sempre? Ficar parado diante de uma paisagem
montanhosa não é já meditar sobre a pequenez do homem face à natureza ou
sobre a ideia do tempo? (...)
Mas compreendo muito bem o que diz
(...). Quando a beleza da natureza nos fascina, temos um prazer
verdadeiro em parar de pensar. Não colocamos mais nenhuma questão. Não
pedimos mais nada do que continuar a contemplar, de nos enchermos de uma
beleza que não compreendemos.
Neste aspecto, de facto podemos
julgá-la ”estranha ao mundo das ideias”. (...) Este mistério que nos
assusta tantas vezes, e do qual passamos a vida a fugir, aceitamo-lo
enfim na beleza.
Porque é que a natureza nos parece tão bela?
Porque a sua beleza nos ensina a amar sem compreender, sem dominar, sem
possuir.(...) Porque a sua beleza nos recorda que, por vezes, - e ainda
bem- não há uma razão.
No primeiro caso, temos necessidade da beleza para ascender às ideias, numa dinâmica ascencional platónica.
No segundo caso, temos necessidade dela para viver uma experiência feliz do mistério.
Mas afinal é assim tão diferente?
Que
a beleza da natureza seja o brilho do verdadeiro ou simplesmento do
mistério, o essencial não é que ela brilhe e que nos faça sentir tão
bem?
Charles Pépin, in Philosophie magazine nº68, Abril 2013